segunda-feira, 30 de março de 2020

Vila Canária, Tororó, Santa Cruz, Pirajá, Nova Constituinte, Santa Luzia, Boa Vista de São Caetano e Sussuarana são os bairros mais propensos a contrair o Covid-19


Os bairros periféricos, mais populares, com moradores de menor poder aquisitivo de Salvador lideram o risco de maior contágio do Coronavírus. A informação foi validada por uma pesquisa do grupo de GeoCombate COVID-19 BA, coordenado pela Universidade Federal da Bahia. O trânsito entre os moradores de bairros mais pobres com os bairros considerados de classe alta, motivado principalmente pelo trabalho, é um facilitador da contaminação. 

Os autores e colaboradores divulgaram uma nota técnica com apresentação de um estudo aplicado com a projeção das localidades soteropolitanas apontadas onde poderá ocorrer proliferação mais rápida do vírus causador da pandemia. O texto foi concluído neste domingo (29.03) e divulgado nesta segunda-feira (30.03.20). 

Oito bairros estão classificadas como o grupo de maior risco de contaminação: Tororó, Vila Canária, Santa Cruz, Pirajá, Nova Constituinte, Santa Luzia, Boa Vista de São Caetano e Sussuarana. 
De quando começou a ser divulgado o boletim com casos por bairro até o último, conforme dados disponíveis no Twitter do secretário da Saúde, Léo Prates, Pituba, Horto e Graça lideram o levantamento de casos confirmados na capital baiana.  

O ranking das localidades foi concebido através do cruzamento de dados de cada bairro e levam também em consideração a rigidez de viagens pelo transporte urbano; o grau do Índice de Desenvolvimento Urbano (IDH); o índice de Vulnerabilidade Social; de Densidade de Ocupação Familiar e da déficit de Saneamento Básico (abastecimento de água e esgotamento sanitário).

Em conversa com o BNews, o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Ernesto Galindo, que está entre os 11 pesquisadores autores da pesquisa, explica ser a intenção do grupo aprofundar a análise diante de um risco para toda população e colaborar com a fundamentação de eventuais medidas protetivas que venham ser tomadas pelo poder público. 

“O nosso foco é discutir a questão social vinculada a saúde em Salvador através de uma análise espacial. Analisamos, por exemplo, os padrões de deslocamento da população dentro da cidade. Vale ressaltar que não analisamos a questão do risco de morte, pois já existem estudos consolidados que comprovam os grupos de risco, mas a velocidade e o risco da disseminação do vírus”, disse.

Galindo, arquiteto e urbanista, pontua que os pesquisadores levaram em consideração o cruzamento de fatores e dados do município junto aos casos confirmados emitidos pelos órgãos oficiais. 

MIGRAÇÃO - Como mencionado, apesar dos bairros de classe alta liderarem, atualmente, o ranking de casos em Salvador, onde também existem concentração de integrantes do grupo de risco (mais idosos), o deslocamento da população entre localidades é o maior facilitador da disseminação. 

“A gente se preocupa com a questão social, como disse. A importação de chegada do vírus é comum em pessoas de maior poder aquisitivo que chegaram da Itália, e há estudos comprovadores disso. Mas a contaminação local, em Salvador, acontece dos bairros de maior poder aquisitivo para os de menor poder aquisitivo. O risco  descoberto é esse”, salienta. 

No texto do estudo é chamada atenção para ações prioritárias nessas localidades. “É importante refletir sobre a necessidade de ações prioritárias nestes locais por parte do poder público. Como orientação da OMS, os Indicadores de Risco aqui apresentados podem direcionar a escolha de locais de aplicação de testes diagnósticos, monitoramento dos casos e o subsequente isolamento dos indivíduos fora de suas residências nos casos em que a alta densidade domiciliar inviabiliza a quarentena doméstica”, sugere o texto dos pesquisadores. 

PODER PÚBLICO - Galindo afirma que os dados utilizados carecem de atualização para um estudo ainda mais preciso.  “Pegamos dados da pesquisa de origem e destino. Infelizmente os dados são antigos. A gente precisa de uma maior aproximação do poder publico para termos dados mais atualizados. Tínhamos esses dados disponíveis, mesmo que não recentes, para assim podermos validar o nosso método”, explicou.

O assunto também é ratificado na nota técnica emitida da necessidade de uma cooperação maior com os poderes públicos. 

A pesquisa ressaltou também a importância de aprofundamento de três medidas: testar, isolar e rastrear novos casos, conforme as orientações dadas pelo Ministério da Saúde e a Organização Mundial de Saúde (OMS).

SAIBA MAIS SOBRE O GRUPO - A equipe GeoCombate Covid-19 BA é formado por pesquisadores que atuam em diferentes instituições, todos eles interessados em fornecer ou gerar dados, elaborar mapas e realizar análises espaciais relacionadas à COVID-19 em Salvador e no Estado da Bahia. 

O texto aponta que a proposta da equipe é “apoiar os gestores, sociedade civil e pesquisadores contribuindo com estudos e investigações que estão sendo conduzidas por diferentes equipes”. 

O grupo é coordenado por professores pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e composto também por profissionais autônomos ou ligados a órgãos executivos do poder público municipal, estadual e federal. São profissionais da área de Geografia, Engenharia de Agrimensura e Cartográfica, Arquitetura e Urbanismo, Engenharia de Transportes, Ciência de Dados, Saúde Pública, Geologia e Economia, com ênfase em análise espacial.

Autores da pesquisa:
- Prof. Msc. Jorge Ubirajara Pedreira Júnior - Engenheiro de Produção, pesquisador em Engenharia de Transportes e Ciência de Dados (DETG-EPUFBA)
- Prof. Dr. Juan Pedro Moreno Delgado - Arquiteto e Urbanista, pesquisador em Mobilidade e Geoprocessamento (PPEC DETG-EPUFBA)
- Prof. Dr. Julio César Pedrassoli - Geógrafo, pesquisador em Análise Espacial e Sensoriamento Remoto (PPEC DETG-EPUFBA)
- Profa. Msc. Fabíola Andrade Souza - Bacharel em Informática, pesquisadora em SIG, IDE e banco de dados geográficos (DETG-EPUFBA)
- Profa. Dra. Patrícia Lustosa Brito - Arquiteta e Urbanista, pesquisadora em Geoprocessamento e Saúde (PPEC DETG-EPUFBA)
- Profa. Msc. Marcella Sgura Viana - Bacharel em Ciências Ambientais, pesquisadora em Logística Urbana e Geoprocessamento (PPEC DETG EPUFBA)
- Ernesto Galindo - Arquiteto e urbanista, mestre em transportes, doutorando em geografia e pesquisador do IPEA Brasília
- Adriana Barata - Analista de Geoprocessamento, Geógrafa, Pós-Graduação em Gestão pública e Consultora em Geomarketing, Analista da Prefeitura Municipal de Salvador
- Adriano Cassiano - Geógrafo, subcoordenador de geoprcessamento do INEMA 
- Carlos Alves de Freitas Júnior - Geógrafo, coordenador de cartografia da SEI
- Prof. Dr. Gervásio F. Santos - Economista, pesquisador em Economia Espacial (FCE/UFBA) 
Colaboradores:
- Ademilson Santos Lima - Graduando em engenharia de agrimensura e cartográfica, técnico do IBGE. Anderson Freitas - Engenheiro
- Agrimensor e Cartógrafo, aluno PPEC-EPUFBA, pesquisador do CIDACS.
- Prof. Dr. Artur Caldas Brandão - Engenheiro Agrimensor, pesquisador em cadastro territorial (DETG-EPUFBA).
- Profa. Msc. Elaine Gomes Vieira de Jesus - Geógrafa, pesquisadora em geotecnologias (Geociências-UFBA).
- Elder Aragão - Analista de sistemas, coordenador de geoprocessamento da EMBASA.
- Profa. Dra. Érika do Carmo Cerqueira - Geógrafa, pesquisadora em geotecnologias e vulnerabilidade (Geociências-UFBA).
- Msc. Harlan Rodrigo Ferreira da Silva - Geógrafo, CONDER.
- Profa. Dra. Heliana Faria Mettig Rocha - Arquiteta e Urbanista, coordenadora da Residência  AU+E/UFBA, pesquisadora em Habitação e Clima Urbano (LabHabitar/ LACAM-Tec/ FAUFBA) Pablo Augusto Brito dos Santos - Geógrafo, especialista em Geotecnologias, Analista de  Geoprocessamento, Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento da Bahia - SIHS.
- Prof. Dr. Renato Reis - Geógrafo, pesquisador, UNIFACS.
- Dr. Ricardo Lustosa Brito - Médico Veterinário, pesquisador em saúde coletiva do ISC-UFBA.
- Prof. Dr. Roberto Bastos Guimarães - Engenheiro Civil, pesquisador sobre risco e vulnerabilidade
(EPUFBA).

Fonte: Site Bnews

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