Os bairros periféricos, mais populares, com moradores de menor poder
aquisitivo de Salvador lideram o risco de maior contágio do Coronavírus. A
informação foi validada por uma pesquisa do grupo de GeoCombate COVID-19 BA,
coordenado pela Universidade Federal da Bahia. O trânsito entre os moradores de
bairros mais pobres com os bairros considerados de classe alta, motivado
principalmente pelo trabalho, é um facilitador da contaminação.
Os autores e colaboradores divulgaram uma nota técnica com apresentação
de um estudo aplicado com a projeção das localidades soteropolitanas apontadas onde
poderá ocorrer proliferação mais rápida do vírus causador da pandemia. O texto
foi concluído neste domingo (29.03) e divulgado nesta segunda-feira (30.03.20).
Oito bairros estão classificadas como o grupo de maior risco de
contaminação: Tororó,
Vila Canária, Santa Cruz, Pirajá, Nova Constituinte, Santa Luzia, Boa Vista de
São Caetano e Sussuarana.
De quando começou a ser divulgado o boletim com casos por bairro até o
último, conforme dados disponíveis no Twitter do secretário da Saúde, Léo
Prates, Pituba, Horto e Graça lideram o levantamento de casos confirmados
na capital baiana.
O ranking das localidades foi concebido através do cruzamento de dados
de cada bairro e levam também em consideração a rigidez de viagens pelo
transporte urbano; o grau do Índice de Desenvolvimento Urbano (IDH); o índice
de Vulnerabilidade Social; de Densidade de Ocupação Familiar e da déficit de
Saneamento Básico (abastecimento de água e esgotamento sanitário).
Em conversa com o BNews, o pesquisador do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Ernesto Galindo, que está entre os 11
pesquisadores autores da pesquisa, explica ser a intenção do grupo aprofundar a
análise diante de um risco para toda população e colaborar com a fundamentação
de eventuais medidas protetivas que venham ser tomadas pelo poder
público.
“O nosso foco é discutir a questão social vinculada a saúde em Salvador
através de uma análise espacial. Analisamos, por exemplo, os padrões de
deslocamento da população dentro da cidade. Vale ressaltar que não analisamos a
questão do risco de morte, pois já existem estudos consolidados que comprovam
os grupos de risco, mas a velocidade e o risco da disseminação do vírus”,
disse.
Galindo, arquiteto e urbanista, pontua que os pesquisadores levaram em
consideração o cruzamento de fatores e dados do município junto aos casos
confirmados emitidos pelos órgãos oficiais.
MIGRAÇÃO - Como mencionado, apesar dos
bairros de classe alta liderarem, atualmente, o ranking de casos em Salvador,
onde também existem concentração de integrantes do grupo de risco (mais
idosos), o deslocamento da população entre localidades é o maior facilitador da
disseminação.
“A gente se preocupa com a questão social, como disse. A importação de
chegada do vírus é comum em pessoas de maior poder aquisitivo que chegaram da
Itália, e há estudos comprovadores disso. Mas a contaminação local, em
Salvador, acontece dos bairros de maior poder aquisitivo para os de menor poder
aquisitivo. O risco descoberto é esse”,
salienta.
No texto do estudo é chamada atenção para ações prioritárias nessas
localidades. “É importante refletir sobre a necessidade de ações prioritárias
nestes locais por parte do poder público. Como orientação da OMS, os
Indicadores de Risco aqui apresentados podem direcionar a escolha de locais de
aplicação de testes diagnósticos, monitoramento dos casos e o subsequente
isolamento dos indivíduos fora de suas residências nos casos em que a alta
densidade domiciliar inviabiliza a quarentena doméstica”, sugere o texto dos
pesquisadores.
PODER PÚBLICO - Galindo afirma que os dados
utilizados carecem de atualização para um estudo ainda mais preciso.
“Pegamos dados da pesquisa de origem e destino. Infelizmente os dados são
antigos. A gente precisa de uma maior aproximação do poder publico para termos
dados mais atualizados. Tínhamos esses dados disponíveis, mesmo que não
recentes, para assim podermos validar o nosso método”, explicou.
O assunto também é ratificado na nota técnica emitida da necessidade de
uma cooperação maior com os poderes públicos.
A pesquisa ressaltou também a importância de aprofundamento de três
medidas: testar, isolar e rastrear novos casos, conforme as orientações dadas pelo
Ministério da Saúde e a Organização Mundial de Saúde (OMS).
SAIBA MAIS SOBRE O GRUPO - A equipe GeoCombate Covid-19
BA é formado por pesquisadores que atuam em diferentes instituições, todos eles
interessados em fornecer ou gerar dados, elaborar mapas e realizar análises
espaciais relacionadas à COVID-19 em Salvador e no Estado da Bahia.
O texto aponta que a proposta da equipe é “apoiar os gestores, sociedade
civil e pesquisadores contribuindo com estudos e investigações que estão sendo
conduzidas por diferentes equipes”.
O grupo é coordenado por professores pesquisadores da Universidade Federal
da Bahia (UFBA) e composto também por profissionais autônomos ou ligados a
órgãos executivos do poder público municipal, estadual e federal. São
profissionais da área de Geografia, Engenharia de Agrimensura e Cartográfica,
Arquitetura e Urbanismo, Engenharia de Transportes, Ciência de Dados, Saúde
Pública, Geologia e Economia, com ênfase em análise espacial.
Autores da pesquisa:
- Prof. Msc. Jorge Ubirajara Pedreira Júnior - Engenheiro de Produção,
pesquisador em Engenharia de Transportes e Ciência de Dados (DETG-EPUFBA)
- Prof. Dr. Juan Pedro Moreno Delgado - Arquiteto e Urbanista,
pesquisador em Mobilidade e Geoprocessamento (PPEC DETG-EPUFBA)
- Prof. Dr. Julio César Pedrassoli - Geógrafo, pesquisador em Análise
Espacial e Sensoriamento Remoto (PPEC DETG-EPUFBA)
- Profa. Msc. Fabíola Andrade Souza - Bacharel em Informática,
pesquisadora em SIG, IDE e banco de dados geográficos (DETG-EPUFBA)
- Profa. Dra. Patrícia Lustosa Brito - Arquiteta e Urbanista,
pesquisadora em Geoprocessamento e Saúde (PPEC DETG-EPUFBA)
- Profa. Msc. Marcella Sgura Viana - Bacharel em Ciências Ambientais,
pesquisadora em Logística Urbana e Geoprocessamento (PPEC DETG EPUFBA)
- Ernesto Galindo - Arquiteto e urbanista, mestre em transportes,
doutorando em geografia e pesquisador do IPEA Brasília
- Adriana Barata - Analista de Geoprocessamento, Geógrafa, Pós-Graduação
em Gestão pública e Consultora em Geomarketing, Analista da Prefeitura
Municipal de Salvador
- Adriano Cassiano - Geógrafo, subcoordenador de geoprcessamento do INEMA
- Carlos Alves de Freitas Júnior - Geógrafo, coordenador de cartografia
da SEI
- Prof. Dr. Gervásio F. Santos - Economista, pesquisador em Economia
Espacial (FCE/UFBA)
Colaboradores:
- Ademilson Santos Lima - Graduando em engenharia de agrimensura e cartográfica,
técnico do IBGE. Anderson Freitas - Engenheiro
- Agrimensor e Cartógrafo, aluno PPEC-EPUFBA, pesquisador do CIDACS.
- Prof. Dr. Artur Caldas Brandão - Engenheiro Agrimensor, pesquisador em
cadastro territorial (DETG-EPUFBA).
- Profa. Msc. Elaine Gomes Vieira de Jesus - Geógrafa, pesquisadora em
geotecnologias (Geociências-UFBA).
- Elder Aragão - Analista de sistemas, coordenador de geoprocessamento
da EMBASA.
- Profa. Dra. Érika do Carmo Cerqueira - Geógrafa, pesquisadora em
geotecnologias e vulnerabilidade (Geociências-UFBA).
- Msc. Harlan Rodrigo Ferreira da Silva - Geógrafo, CONDER.
- Profa. Dra. Heliana Faria Mettig Rocha - Arquiteta e Urbanista,
coordenadora da Residência AU+E/UFBA, pesquisadora em Habitação e Clima
Urbano (LabHabitar/ LACAM-Tec/ FAUFBA) Pablo Augusto Brito dos Santos -
Geógrafo, especialista em Geotecnologias, Analista de Geoprocessamento,
Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento da Bahia - SIHS.
- Prof. Dr. Renato Reis - Geógrafo, pesquisador, UNIFACS.
- Dr. Ricardo Lustosa Brito - Médico Veterinário, pesquisador em saúde
coletiva do ISC-UFBA.
- Prof. Dr. Roberto Bastos Guimarães - Engenheiro Civil, pesquisador
sobre risco e vulnerabilidade
(EPUFBA).
Fonte: Site Bnews