quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

O desconto não é real': o que está por trás do CPF que pedem na farmácia


Com essa informação, fornecida pelos consumidores para ganhar desconto, as empresas mantêm bancos de dados com até 15 anos das compras — do cotonete ao remédio de tarja preta — feitas por 48 milhões de pessoas no Brasil.

 

A jornalista do Uol Amanda Rossi, esclarece: "O desconto [do CPF] não é real. Eu afirmo categoricamente [...] O preço mais próximo do real é aquele que você paga depois que você dá o CPF".

 

Ela dá o exemplo de uma caixa com 12 comprimidos de um genérico do anti-inflamatório nimesulida. Custava R$ 31,78 na RaiaDrogasil, em São Paulo, sem o CPF, em agosto de 2023. Já com o CPF, o preço despencava para R$ 8,50. Um desconto tentador de 73%.

 

Já uma rede de hospitais privados pagou R$ 4,39 pela mesma caixa de nimesulida. Órgãos públicos, por sua vez, adquiriram o mesmo produto por R$ 1,08. "Os R$ 31,78 da tabela que as farmácias cobram [...] só estão lá para você dar o CPF", resume.

 

E o CPF alimenta o banco de dados das farmácias e é a base de uma operação para a maior rede de farmácias do país, a RaiaDrogasil, ganhar dinheiro com anúncios.

 

Uma subsidiária da empresa, chamada RD Ads, é contratada por anunciantes que querem direcionar sua propaganda para públicos específicos, conforme as compras na farmácia.

 

Quem toma antidepressivo, por exemplo. Esse grupo é identificado na base de dados da farmácia. Depois, começa a ver a propaganda não só no site da farmácia, mas nas redes sociais e no YouTube. Segundo o CEO da RD Ads, 97% dos clientes da RaiaDrogasil se identificam.

 

A ideia é que a farmácia se torne concorrente do Google e da Meta pelo mercado publicitário. Com a diferença, alerta Amanda Rossi, que a RD Ads usa para isso dados de saúde.

 

"A Lei Geral de Proteção de Dados diz que dado de saúde e de comportamento sexual são os que precisam ser mais protegidos. São chamados de dados sensíveis.".

 

Em nota para a reportagem, a RaiaDrogasil disse que "não condiciona concessão de descontos à identificação pessoal" e que os descontos são "reais". Em todas as unidades visitadas pela reportagem, no entanto, foi informado que o desconto só seria concedido se fosse informado o CPF.

 

Fonte: Site do Uol