Há exatos 30
dias, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) passou a emitir boletins diários
sobre o avanço do novo coronavírus na Bahia. Naquele 27 de fevereiro, um dia
depois da Quarta-Feira de Cinzas, fim do Carnaval, 12 casos suspeitos foram
registrados por aqui. A história da primeira pessoa infectada ficou conhecida
pouco mais de uma semana depois, no dia 6 de março, em Feira de Santana, a
pouco mais de 100 km de Salvador.
Hoje, o estado já tem 18 cidades com casos positivos de
Covid-19, a infecção causada pelo novo coronavírus, totalizando 108 pessoas
infectadas e 16 pacientes curados, segundo o boletim mais recente da Sesab,
divulgado na tarde desta quinta (26).
Na liderança das
ocorrências, com 63 casos, está Salvador, que já tem pelo menos 31 bairros
com infectados pelo vírus que foi descoberto em dezembro de 2019, na China.
Dentre os municípios com casos confirmados, a maioria está no
litoral baiano, mas o vírus também já chegou no Oeste, em Barreiras (1), no
Norte, em Juazeiro (2), e no Sul, em Teixeira de Freitas (1).
Depois de
Salvador, Porto Seguro e Feira de Santana ficam em segundo e terceiro lugares,
respectivamente, em número de confirmações da nova doença que põe o mundo de
joelhos.
A primeira paciente
O caso de Feira de Santana, aliás, não foi o pioneiro só na Bahia, mas também no Nordeste do país. Na cidade, um dos principais entroncamentos rodoviários do Estado, a infectada, uma mulher de 34 anos (já curada), acabou transmitindo o vírus para sua empregada doméstica, de 46 anos. A funcionária, por sua vez, transmitiu coronavírus para seus pais, ambos idosos.
Já em Porto
Seguro, o empresário milionário Cláudio Henrique do Vale foi responsável por
levar o vírus para Trancoso, distrito turístico da cidade. A história dele
virou caso de inquérito policial movido após uma reclamação do governo
estadual, que defende que o homem evitou as recomendações de quarentena quando
estava em São Paulo e viajou para a Bahia, mesmo sob suspeita de Covid-19.
Ao partir para Trancoso, o empresário espalhou o vírus para pelo
menos três pessoas: sua esposa, uma amiga e o cozinheiro que trabalha para ele
no distrito baiano. Atualmente, Cláudio Henrique está em isolamento em sua
casa, na praia de Itapororoca, em Trancoso, junto com outras 16 pessoas, entre
familiares, amigos e funcionários.
Para você entender o avanço do novo coronavírus no território baiano e
em Salvador, o CORREIO preparou alguns tópicos e gráficos, que fazem um breve
raio-x da situação.
- Por que Salvador, Porto Seguro e Feira de Santana têm mais casos?
Especialista em epidemiologia, Maria da Glória Teixeira, professora da
UFBA, explica que essas três cidades são portas de entrada para o Estado. Ela
recorda que os casos por aqui começaram a ser detectados em pacientes com
histórico de viagem ao exterior, como foi o caso da feirense infectada, que
veio da Itália. “Salvador tem um aeroporto internacional. Se, ao chegar, as
pessoas não são detectadas, isso começa a se disseminar”, explica a
médica.
Além disso, Feira de Santana possui o maior entroncamento rodoviário do
Norte e Nordeste, sendo cortada por seis rodovias — três federais e três
estaduais. De acordo com a prefeitura da cidade, cerca de 400 caminhões passam
pela cidade todos os dias.
Com um vasto litoral, em Salvador e Porto Seguro pesam a existência de
aeroportos com fluxo de turistas. “São cidades que atraem muita gente de fora.
Os polos turísticos estão mais perto do litoral, o que gera um risco maior de
receber pessoas contaminadas”, completa Maria da Glória. Embora as duas cidades
também sejam rota de cruzeiros, nenhum caso a bordo foi identificado, como
aconteceu em Recife (PE), onde um canadense de 79 anos morreu.
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem mais de 2,9 mil casos
atualmente. Deste total existente a nível nacional, os registros do
estado representam apenas 3,7%. Até agora, 77 óbitos foram
computados no país, nenhum na Bahia.
·
Quem está sendo
infectado no Estado?
Em coletiva de imprensa transmitida pelo Youtube, nesta quinta,
o secretário estadual de Saúde, Fábio Vilas-Boas, citou que, por enquanto, a
doença está afetando a classe média e média alta. De acordo com dados mais
recentes compilados pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais
(SEI), até 23 de fevereiro, o maior registro de infectados (25%) estava na
faixa etária dos que têm entre 45 e 49 anos. “Quando o vírus entrar nos bairros
populares, a taxa de contágio seguramente será maior”, disse o secretário.
A chegada do coronavírus nas áreas pobres é uma
preocupação das autoridades de saúde não só baianas, mas mundiais, já que as
condições de moradia e saneamento são mais precárias. Segundo o titular da
Sesab, o estado pretende oferecer a essas pessoas opções de alojamento fora da
periferia.
Pelo Twitter, o governador Rui Costa informou que a Faculdade
Ruy Barbosa ofereceu o campus do Rio Vermelho para a instalação de 2.000
leitos para pacientes carentes que precisam se isolar de seus
familiares e não vivem em condições ideais.
·
Como está a
circulação de pessoas?
Para evitar a disseminação do novo coronavírus, o governo do
Estado determinou, por meio de decretos, o fechamento de rodoviárias de 26
municípios. Mesmo sem ter casos registrados da infecção Covid-19, algumas
cidades tiveram o serviço de transporte intermunicipal suspenso por estarem em
área de divisa com outros estados ou com locais onde há forte fluxo de
caminhões e ônibus, como Bom Jesus da Lapa, que costuma ter caravanas com
peregrinações religiosas.
Além disso, o estado também colocou barreiras em estradas e
aeroportos, fazendo a medição de temperatura de passageiros. As travessias
marítimas de Salvador para Morro de São Paulo, Barra Grande e Madre de Deus
também foram suspensas e as lanchas e ferry-boats de Salvador para Vera Cruz e
Itaparica tiveram capacidade de passageiros e horários reduzidos.
O governador Rui Costa também já declarou que acha improvável a
realização das festas de São João, em junho, quando o fluxo de pessoas se
dirige para o interior do estado. As cidades de Conceição do Almeida e Vitória
da Conquista já anunciaram o cancelamento dos eventos juninos.
·
Já tem
transmissão comunitária da Covid-19 na Bahia?
Sim. A transmissão comunitária ocorre quando não é mais possível
identificar a fonte de infecção em pacientes que contraem a doença, o que
indica que o vírus já circula entre a população. Na Bahia, a Sesab admitiu a
circulação no dia 19 de março, uma semana atrás.
Em Salvador, a maioria dos casos se concentra em bairros nobres,
mas já há pelo menos oito áreas periféricas com infectados. Os
quatro locais com mais registros são Pituba (11), Horto Florestal (6),
Graça (5) e Brotas (5), que juntos têm mais de 43% das ocorrências. Entre os
bairros mais pobres estão Cajazeiras, Caixa D’Água, Cosme de Farias,
Engomadeira, Fazenda Coutos, Massaranduba, Pernambués e São Caetano. São 31
bairros com infectados (um dos moradores não teve o bairro onde mora
divulgado).
Moradora do Itaigara, onde dois casos de Covid-19 foram registrados,
Patrícia Athayde, 56, diz que começou a se proteger desde o Carnaval.
“Eu vi que tinham casos na Pituba e a Pituba e o Itaigara são muito
próximos. Desde que os casos chegaram em Salvador, estamos saindo só para o
indispensável”, conta ela.
A preocupação se deu porque sua filha tem diabetes e faz parte do grupo
de risco da Covid-19. Nesse meio tempo, Patrícia dispensou o funcionário e
dividiu as tarefas de casa com a família. Todo mundo teve que adotar o hábito
de limpar maçanetas, controles de TV e interruptores.
“Eu moro numa casa, então não tem elevador. Sabemos que em alguns
prédios já tem essa restrição de ir um de cada vez. Aqui, pelo menos, a gente
não se sente tão preso porque temos jardim”, relata.
·
Restrições na
capital
Antes mesmo do registro de casos em Salvador, a prefeitura
determinou medidas para conter o avanço do vírus. A mais recente, anunciada
nesta quinta, foi a suspensão do comércio de rua, o que afeta a Av. Sete
de Setembro, por exemplo.
Atualmente, também estão suspensas na cidade as aulas nas
escolas e universidades, proibidos eventos, boates, cinemas, teatros e clubes
sociais recreativos. Como muitas atividades pararam, as pessoas aproveitavam
para curtir o mar, mas as seis praias mais frequentadas da capital —
Porto da Barra, Farol da Barra, Rio Vermelho, Itapuã, Piatã e Ribeira, também
foram interditadas por medida de segurança.
Com menos circulação de gente, o transporte coletivo foi
reduzido. O Elevador Lacerda e o Mercado Modelo foram fechados. Estão sem
funcionar, ainda, os shoppings, centros comerciais e mercados municipais. Bares
e restaurantes só podem funcionar com delivery.
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