Os grandes bancos do país lançaram semana passada uma ação conjunta com
objetivo de diminuir o impacto das medidas para conter o avanço do novo
coronavírus sobre a economia. A promessa anunciada era permitir a clientes a
possibilidade de adiar, por até 60 dias, o pagamento de parcelas de
empréstimos. Mas quando os correntistas entraram em campo para obter o
benefício, a grande maioria se decepcionou. Os canais de atendimento não
funcionam, falta informação entre gerentes e a prorrogação é, na verdade, um
novo financiamento ou novo contrato, com aumento dos juros.
"O Itaú simplesmente não atende os canais de comunicação. Tornou
esse pedido impossível", disse o cliente Roberto Daia. "Estou
tentando contato com o Santander, mas até o momento sem sucesso. Pedem para
ligar na central, mas a ligação é interrompida porque relatam não possuírem
atendentes", afirma Gisele Moreira França. "Liguei para a agência da
Caixa, eles não sabem de débito nem como vai funcionar isso. Estão
completamente perdidos e sem informações para repassar aos clientes",
disse Marcos Amaral, cliente do banco estatal. "Bradesco diz não ser
possível um adiamento por 60 dias, que nada sabe a respeito, e se for feito um
refinanciamento será com juros de 7,92% ao mês", afirmou Raul Rota,
cliente do segundo maior banco privado do país. "O Banco do Brasil oferece
um serviço que já existia, a renovação do empréstimo, e não um adiamento da
cobrança das parcelas", afirma Gizellen Alves, cliente do banco público.
Segundo os bancos, a possibilidade de adiar os pagamentos de empréstimos
tomados pelos clientes está disponível, mas é válida apenas para quem está com
a conta em dia. Além disso, afirmam os bancos, para inserir esse tipo de medida
extraordinária dentro do sistema operacional da instituição financeira é
necessário classificar a operação como uma repactuação ou refinanciamento.
O problema é que esses detalhes não ficaram claros assim que a medida
foi lançada, na segunda-feira da semana passada (dia 16). E muitos clientes se
sentem prejudicados pelo anúncio, que consideram falsa propaganda.
Empresas também reclamam de juros altos
Não é só para pessoas físicas que os bancos estão aumentando os juros.
Empresários ouvidos anteriormente pelo UOL também declararam que os bancos
estão segurando dinheiro e aumentando juros (em alguns casos, subindo 2,5 vezes
a taxa).
O próprio Banco Central também detectou aumento de juros e menor prazo
de financiamento por parte dos bancos.
Direitos do consumidor
A especialista em assuntos financeiros do Instituto Brasileiro de Defesa
do Consumidor (Idec), economista Ione Amorim, alerta para cuidados que os
clientes devem ter na hora de alongar pagamento de parcelas de compromissos com
os bancos.
Segundo ela, o consumidor precisa prestar atenção à cobrança de juros
referentes ao período em que o pagamento está suspenso. Para ela, o correto
seria o consumidor não assumir juros por conta dessa suspensão.
A especialista do Idec destaca ainda que o cliente precisa checar com o
banco se não haverá acúmulo de prestações após a prorrogação, e se não vão ser
inseridas mais mudanças no contrato original.
Na dúvida, os clientes podem procurar o próprio Idec, o Procon-SP ou
mesmo a ouvidoria do Banco Central.
Bancos respondem
Por meio de nota, o Itaú Unibanco disse que "está cumprindo
rigorosamente o compromisso assumido de atender a pedidos de prorrogação, por
60 dias, dos vencimentos de dívidas de clientes pessoas físicas e micro e
pequenas empresas para os contratos vigentes em dia e limitados aos valores já
utilizados".
O banco diz que, caso se concretize o adiamento, as taxas de juros permanecem
as mesmas do contrato original sem incidência de multas e encargos adicionais.
Mas o mesmo banco admite que "em alguns casos, o valor da parcela do
cliente pode aumentar em função de IOF e da aplicação dos juros do contrato
original sobre a carência adicional".
Já na Caixa, a informação passada por nota foi a de que "a rede de
atendimento já foi orientada a operacionalizar as medidas anunciadas". O
banco estatal diz que há opções de adiamento de pagamento para diversos
empréstimos, como CDC (crédito direto ao consumidor), crédito pessoal e capital
de giro de empresas.
Sobre os custos nessas operações, a Caixa informou que "os juros
serão recalculados e acrescidos ao saldo devedor do contrato". Assim, diz
o banco, "o cliente realizará o pagamento desse valor, de forma diluída,
ao longo das parcelas restantes da dívida".
"As parcelas remanescentes são calculadas considerando o valor do
saldo devedor, acrescidas unicamente dos juros relativos ao período da
pausa", informou a Caixa.
A Caixa diz ainda que os clientes que possuem contrato de financiamento
habitacional pessoa física ou pessoa jurídica, que estejam em dia com os
pagamentos ou com até dois encargos em atraso, podem solicitar a pausa, com
exceção dos casos em que o cliente esteja utilizando o FGTS para pagamento das
prestações mensais.
O Santander Brasil informou que lançou um hotsite para orientar os
clientes interessados em solicitar a prorrogação do vencimento das dívidas por
até 60 dias, conforme a determinação do Conselho Monetário Nacional (CMN).
A iniciativa, diz o banco, faz parte de uma série de medidas para ajudar
a minimizar os impactos do avanço do novo coronavírus sobre a atividade
econômica, entre elas a ampliação automática de 10% o limite do cartão de
crédito de todos os clientes adimplentes e a antecipação, para abril, do
pagamento total do 13º salário de todos os 47 mil funcionários, além do
congelamento de processos de demissão de colaboradores da companhia no país.
O Bradesco disse que está à disposição para prorrogar por 60 dias as
prestações de financiamento de seus clientes. "A taxa de juros
inicialmente contratada será mantida e haverá a cobrança proporcional dos
juros, considerando a carência solicitada, para o período restante da
operação".
Segundo o segundo maior banco privado do país, para crédito pessoal,
crédito parcelado, capital de giro e cheque especial pessoas física e jurídica,
o cliente precisa ligar para sua agência e solicitar a prorrogação. O gerente
então fará o ajuste necessário no contrato e disponibilizará uma nova proposta
nos canais digitais do banco (Internet banking, celular e autoatendimento),
onde o cliente fará a validação do novo contrato".
No crédito imobiliário, o banco disponibilizou um formulário em seu
internet banking, que deve ser preenchido, assinado e enviado por e-mail para a
agência do cliente. E o banco deixa mais informações estão disponíveis no site.
O Banco do Brasil afirmou que todos os clientes têm acesso a prorrogação
das parcelas via web, sem necessidade de ir a uma agência do BB. A instituição
financeira pública informa que as renovações de operações já contratadas
poderão ter os mesmos prazos de carência. Há também a possibilidade de
flexibilizar o cronograma de pagamento, ficando um ou dois meses sem pagamento
de parcela em todos os anos da vigência do contrato. A possibilidade de
renovação está disponível nos canais digitais (App BB e internet) e nos
terminais eletrônicos do BB. Mais informações estão disponíveis em
bb.com.br/emprestimo.
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