27/04/2023 - Uma empregadora doméstica de Aracaju (SE), que não
apresentou em juízo controles de jornada da empregada, deverá pagar R$
36.880,43 correspondentes a horas extras reivindicadas pela trabalhadora em uma
ação trabalhista. A determinação, do Tribunal Regional do Trabalho da 20ª Região
(SE), foi confirmada depois que a 5ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho
(TST) não conheceu do recurso de revista ajuizado pela empregadora.
Horas extras
A trabalhadora, que exercia as funções de babá e empregada doméstica,
reivindicou o pagamento de três horas extras diárias cumpridas, segundo ela, de
novembro de 2017 (no início do contrato) a março de 2020. Na ação, disse que
trabalhava de segunda a sexta-feira, das 6h às 14h30, com intervalo de 1h para
alimentação, e das 17h às 20h30.
Alegou ainda que, no período de março a outubro de 2020 (quando foi
demitida), trabalhou oito horas extras por dia. Segundo ela, com o início da
pandemia, passou a residir na casa da patroa e cumprir jornadas das 6h às 22h,
com 1h de intervalo para repouso e alimentação, de segunda-feira a
domingo.
Controle de jornada
A empregadora contestou o pedido, informando que a jornada era de
segunda a sexta-feira era das 6h às 12h e das 18h às 20h. Argumentou, ainda,
que a cada 15 dias, às sextas-feiras, o trabalho se encerrava às 12h. Contudo,
não apresentou documentos que comprovassem essa jornada.
A Lei Complementar 150/2015, que dispõe sobre o contrato de trabalho
doméstico, obriga o registro de horário de trabalho do empregado por qualquer
meio - manual, mecânico ou eletrônico -, desde que idôneo.
Presunção de veracidade
Na sentença, o juízo da 7ª Vara do Trabalho de Aracaju destacou que “uma
vez alegado o trabalho extraordinário e não apresentado os controles de ponto,
é de se presumir verdadeira a jornada declinada na petição inicial” e
determinou o pagamento de parte das horas extras reivindicadas pela
trabalhadora, após análise de documentos apresentados no processo e de
depoimentos de testemunhas.
A empregadora recorreu ao TRT-20, argumentando que o fato de não ter apresentado
documentos do controle de horários, por si só, não acarretaria a aplicação da
jornada alegada.
Horas extras devidas
Mas os desembargadores reforçaram que, ao não apresentar os controles de
frequência, ela descumpriu a Lei Complementar nº 150/2015. Na decisão,
aplicaram entendimento da Súmula 338, I, do TST, segundo a qual “a não
apresentação dos controles de jornada em juízo pelo empregador doméstico enseja
a presunção relativa da jornada alegada na inicial, a qual pode ser elidida por
prova em sentido contrário”. Eles mantiveram a determinação ao pagamento das
horas extras, excluindo da condenação apenas um período em que a trabalhadora
se dedicou à realização de um curso online.
A empregadora, então, recorreu ao Tribunal Superior do Trabalho. No
voto, o relator, ministro Breno Medeiros, ressaltou que a Súmula 338 do TST é
aplicável analogicamente à hipótese do caso analisado. Para ele, a decisão do
TRT está em conformidade com a Lei Complementar nº 150/2015 e com a
jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, “uma vez que a reclamada não
apresentou os controles de horário da reclamante, empregada doméstica, tampouco
demonstrou, por outros meios de prova, a inexistência do direito
postulado”.
Por essa razão, de forma unânime, os ministros da 5ª Turma não
conheceram do recurso de revista e mantiveram a decisão tomada pelo Tribunal
Regional do Trabalho.
Processo: RR-737-04.2020.5.20.0007
Fonte: Tribunal Superior do Trabalho
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